Eu desdobrava com cuidado o papel cor champagne, de textura tenuamente áspera, onde minhas iniciais estavam escritas. Não havia endereço ou o nome de algum misterioso remetente. E então, quando a extremidade esquerda foi desmembrada do corpo do envelope eram apenas eu e aqueles tantos papéis.
Desdobrei com cuidado as folhas e acomodei novamente a cabeça na poltrona, foi quando aquele calor envolveu meus ombros. Eu sentia teu abraço mesmo você não estando lá e o cheiro de um amor que ainda me é escuso fazia com que meus olhos transbordassem em sentimentos de saudade e devaneio.
A carta começou com uma bela letra. Seus contornos e sua forma não me eram suficientes para ligá-la a ninguém, porque aquela beleza e aquele papel não poderiam ter sido feitos por nenhuma pessoa feita de carne e osso. A tinta que letra a letra preenchia o papel, brilhava de forma dessemelhante aos meus olhos. Mas a cor, o cheiro e a textura que sentia em meus dedos foram-me, linha após linha, revelando por quem fora escrita aquela pequena obra de arte...
A leitura era contagiante e surpreendentemente abundante. Era enigmática e emocionante. Fazia-me rir em lágrimas, fazia-me chorar
Sinto-me como se não pudesse conter em mim todo este sentimento trançado de tantas belezas e incertezas apaixonadas. Sinto-me como se o tempo nos fosse um pequeno inimigo e como se a falta do teu peito a soar o som de tua vida em meus ouvidos já não pudesse mais ser contido dentro de mim.
Aquela carta, tantos detalhes e digitais, o cheiro, a cor, este amor...
E então eu soube que você fora escrito perfeitamente e unicamente para mim.