segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Uma pequena parte



Lembro dos preparativos de um grande dia em minha vida. Eu entraria naquele avião sozinha, eu teria que administrar o dinheiro pra não faltar no fim do mês, a rotina se tornaria diferente, as pessoas eram singulares, de todos os lugares do Brasil.

Enquanto filmava aquelas nuvens já negras do avião ficava pensando em tudo aquilo para o qual eu não estava pronta. Pensava em minha ignorância pra tudo que viria e na verdade eu estava indo pra lá como uma criança que precisava aprender algo que não sabia o que era. Pensava no clima que eu não conhecia, na vida que eu não tinha, nas palavras que eu ouviria, nas risadas que daria e nas lágrimas que rolariam dos meus olhos. Nada foi como imaginei durante aquele voo de aproximadamente uma hora e meia.

Estava pisando em solo curitibano e não encontrava minhas malas na esteira do aeroporto Afonso Pena. Atrasei alguns minutos pra encontrá-los do outro lado daquelas portas de vidro, mas eles estavam lá. Reconheceram a minha cara um pouco assustada, cheia de expectativas.

Fui a penúltima a chegar no quarto. A última chegaria um pouco antes do primeiro café da manhã naquele lugar. Quando finalmente deitei na cama e olhei para aquela grade de madeira que eu veria durante três meses   foi instantâneo pensar: O que estou fazendo aqui?

Não sei se, faltando alguns dias para acabar este tempo, já consigo encontrar a resposta. Eu já pensei a ter encontrado muitas e muitas vezes, mas é sempre mais do que imagino. Sim, é tempo de plantar sementes, de responder a um chamado, de aprender, de fluir, de ser transformada. Mas amanhã eu descubro um motivo que até agora não conhecia e, sabe, isso faz esse tempo ser incrivelmente inesquecível.

Lembro de tantos pequenos detalhes. Olhares, lágrimas, danças, gargalhadas. Eu lembro das conversas, das chatices, das confusões, das chateações. Já foi mais, muito mais do que eu poderia ter imaginado.

Eu lembro Pai, dos dilemas que invadiram minha mente, eu lembro dos dias que eu queria fugir do mundo, que eu queria correr pra um abraço que eu não conhecia. Eu lembro Pai, de tudo o que você me disse, de tudo o que você mostrou, de todo o amor que você me deu e gerou em mim.

A inexperiência fez de mim um pouco mais aprendiz. E me tornar aprendiz me fez perceber que em algum aspecto eu ainda continuo inexperiente.

A vontade de fazer algo que fosse grande me tornou medrosa, mas o amor que lança fora o medo me mostrou que pequenos gestos são suficientemente grandes em si.

O cheiro que inundava as minhas narinas não era o cheiro que eu poderia por completo exalar de mim. Existia algo mais para dar e esse algo era eu mesma.

Primavera foi esse tempo. Tão lindo quanto as flores que eu tanto admiro. Tão singular como o cheiro que cada uma delas exala. Tão perfeito quanto é o Criador delas. Tão cheio de surpresas como são os espinhos daquelas que as tem.

Tempo de ser eu. Tempo de descobrir quem sou eu. Tempo de ser Tua. Tempo de descobrir quem é Você. Tempo de amar quem está ao meu redor. Tempo de simplicidades grandiosas. Tempo de muitas lágrimas.

O pior de tudo o que já passou é saber que nada volta mais. O melhor, no entanto, é saber que me esperam logo ali na frente perfumes que eu não senti, sonhos que eu não sonhei, pessoas que eu não conheci, momentos que eu não vivi, mistérios que eu ainda não descobri.


Fez, faz e fará valer a pena.











As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. 

1 Coríntios 2:9b