quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Choses dans la vie


Tarde de quinta-feira, do antepenúltimo mês do ano de 2010. Eu resolvi fazer uma visita ao computador, com um copo d’água ao meu lado direito, porque tomei coragem para compartilhar alguns pensamentos -talvez insanos- meus.

Começo pela ilusão que temos em relação à posse daquilo que está a nossa volta. Se todos os dias sentamos na mesma cadeira passamos a ter a ideia de que ela nos pertence. Quando alguém -infame alguém- decide sentar naquela cadeira a ira floresce, afinal aquela criatura implicante a tomou na mera intenção de nos levar a loucura. “Minha cadeira, tanto lugar pra sentar e ele(a) vem sentar na minha -com aquela vozinha perplexa- cadeira, falta de respeito.” Enfim, a primeira ilusão.

Segunda ilusão: “Eu sei Português”. Meu bem, acredite, você não sabe português. Simplismente porque você vai viver a sua vida inteira - não morra antes, faça o favor - tentando entender e -mais difícil- praticar coisas como concordância verbal e nominal, pronome relativo e afins, síntaxe da oração, paralelismo sintático, relações de sinonímia e antonímia, colocação pronominal, pontuação e por ai vai, até que uma triste reforma ortográfica acabe com a sua vida e você descubra que seus sete anos super nada monótonos de Ensino Fundamental e Médio -não vamos contar com os anteriores porque ter uma lancheira multicolorida, um tênis de luzinha e correr no recreio (não é intervalo) é bem legal- estão dizendo, na maior cara levada, que você não deveria ter mentido para você mesmo dizendo que carregar aquele tijolo chamado gramática nas costas durante intermináveis 200 dias, mais ou menos, valeria a pena porque você iria adquirir mais conhecimento. Mas, contudo, entretanto, porém, todavia – recupera o fôlego- você continua amando a Gramática, ou não? Bem, cada um com os seus problemas...

Então você chega a –porque quem chega, chega a algum lugar- casa quase se sentindo alguém com um pré-reumatismo, com dores nas costas e com um cansaço doido que dá a ilusão que você viajou do Sudão ao Brasil carregando um urso nas costas e diz: “Tenho que estudar.” E porque você tem que estudar coisa bonitinha? “Porque eu tenho uma necessidade, que eu não sei de onde vem, de conhecer algo.” Só que este "conhecer algo” é mais complexo do que parece; somos ignorantes sabendo Física interplanetária, direito administrativo, psicanálise, espondiloartrose anquilosante (é uma doença – um dia pra aprender a falar e outro pra aprender a escrever) e coisinhas lindas do tipo, pra que, em um belo dia de sol, você veja uma criança de dois anos ensinando aos pais o que é amor, ou parar um tempo pra observar os melhores amigos do homem e ver como eles têm facilidade em perdoare perceber que você não sabia de nada, porque conhecimento é como fazer um castelo de areia na praia, é frágil, é pó.

E ai por fim acreditamos que temos que fazer isso ou aquilo pra fulano ou cicrano nos perceber, para sermos alguém na vida etc. Começamos a olhar para o que queríamos ser e esquecemos quem somos, projetando uma pessoa em nossa mente que não é aquela que se vê quando nos encaramos no espelho, mas alguém que poderíamos ser, alguém que queríamos ser. É nesse momento que florescem os problemas com a auto-estima, a depressão. Na verdade, aquilo que somos é aquilo que fomos criados para ser. Isso não é uma visão cômoda, que prega que temos que deitar em uma rede e esperar a vida passar, é amar-nos tanto a ponto de querer fazer-nos melhor. Deus nos confiou isso. Para que possamos crescer, evoluir, do nosso jeito, no nosso tempo. (abre parênteses)

- Permita que me apresente, Senhor! – disse Caspian, ajoelhando e beijando a pata do Leão.

- Bem-vindo seja, príncipe – disse Aslam. Sente-se bastante forte para reinar em Nárnia?

- Bem, não sei – respondeu Caspian. Não passo de um garoto.

- Muito bem! – Replicou Aslam. – Se dissesse que tinha a certeza, seria prova de que não estava apto a reinar. Por isso abaixo de mim e do Grande Rei, será rei de Nárnia, Senhor de Cair Paravel e Imperador das Ilhas Solitárias. Você e seus descendentes, enquanto durar a sua raça.

As Crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian

Capitulo 15, página 389, segundo parágrafo

(fecha parênteses) Com o tempo – para dar aquele ar de velho sábio – percebemos que não somos donos de tantas coisas, que não conhecemos tantas coisas e que no fundo não nos sentimos bons, preparados ou importantes. No fundo, tudo isso é aquilo que deveria ser. Não nos convém ser senhor de algo -mude a entonação, por favor, para aquela voz de Johnny Bravo, conhecer tudo ou nos sentirmos perfeitos, porque se assim fosse, a vida perderia a graça: As crianças não brigariam mais pra saber quem vai no banco da frente, não conheceríamos outras pessoas na sala de aula em seus cantos longínquos e por pouco não inabitados e perderíamos uma das mais belas qualidades possíveis de se adquirir, a humildade/simplicidade. Porque quando sou fraco, então é que sou forte (2 Coríntios 12:10) e pra mim isso basta e faz todo sentido.

[...] Tudo na vida é ilusão. Clara Nunes

[...] É ilusão, é ilusão, diz o sábio. Tudo é ilusão. Eclesiastes 12:8