segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Penumbra



A chuva caia lá fora e tranquiliza-me o corpo com a melodia que gota a gota produzia. Dia de dormir na sala e ficar até tarde assistindo séries policiais. A mistura do friozinho que a chuva produzia, as cobertas quentinhas e assistir TV trouxeram-me sono. Estiquei-me, desliguei o DVD e fiquei olhando a escuridão que tomava a sala por completo, esperando meus olhos não conseguirem mais ficar abertos. Comecei a enxergar pessoas, rostos, monstros, coisas absurdas. Cobri-me na tentativa de me proteger com a coberta, como se ela pudesse de fato me proteger de algo. E senti medo. E fiquei com vergonha de mim mesma por sentir medo. Logo eu? Uma garota na minha idade com medo do escuro e das alucinações que ele trás?

Pois é, a vida é cômica.

Eu ali, em meus plenos dezenove anos, tomada pela escuridão, ás duas e tanto da manhã, com a chuva lá fora a cair e a luz da rua invadindo a sacada, fechei os olhos e quando os abri, sorri.

Quantas vezes, nessa coisa de "ser gente grande" eu esqueço das alucinações que tenho quando tudo parece estar escuro na vida? Quantas vezes faço as situações mais problemáticas que elas são? Quantas vezes eu enxergo monstros e pessoas desconhecidas onde só existem coisas com as quais eu já estou familiarizada e que somente não consigo enxergar? E a sala, pouco a pouco, ficava em minha mente como ela verdadeiramente era. O escuro não se tornou mais amedrontador.

Lembrei-me de quando era criança, dos medos que sentia e pensei na Bárbara agora, com os medos de gente grande. Pensei em como eles são ainda mais bobos e irreais.

A escuridão era a falta de luz. Medo é como estar em um lugar escuro quando se tem medo do escuro. É enxergar coisas irreais em algo que é real. É se preocupar sem precisar estar preocupado.

Quero aprender a enxergar no escuro da vida, a trazer luz, a me cobrir da certeza de que sou protegida, fechar os olhos e sorrir. Sei que meus medos são superados quando confio Naquele que pode me acolher em meio a escuridão. Quando confio, não há medo.

E assim, houve luz.