sábado, 28 de janeiro de 2012

A beleza no contraditório

Não sei como começar este texto da melhor forma e digo logo de início pra que falsas expectativas não sejam criadas. Estava prestes a escrever que este não era um texto sobre coisas bonitas, ou tentativas sublimes de escrever o que sinto ou penso com algumas belas palavras ou inspirações que vêm de repente, mas então me lembrei que nas não belezas existem belezas e que, assim, a beleza é justamente o contraditório do que é bonito e do que não é. 

Confesso que eu não entendo bem isso, mas por alguma razão, sei que é verdade. Vou tentar explicar tudo o que têm se passado em minha mente já a alguns dias...

Até pouco tempo, minhas ideias a respeito do mundo, das pessoas, de relacionamentos, da vida eram um tanto quanto ideais, quimeras muito "reais" para mim e eu não conseguia me imaginar vendo o mundo de outra forma. Muitas vezes me senti um pouco "fora da casinha", descriminada, maluca e adjetivos na mesma linha.

Mas então, talvez por um golpe do que me diziam ser a realidade, eu me tornei uma pessoa um pouco pessimista, não estava vendo as coisas tão perfeitas e as pessoas tão boas. Comecei a ver as "feiuras" do que até a certo momento era muito belo para mim. E muitas vezes aquele lado pesou mais. Fui responsável por quase destruir meus sonhos que eram infantis, apesar de não ser mais uma criança. 

Tive um colapso nervoso, uma crise de identidade - ou personalidade, como queira - e realmente comecei a questionar muitas coisas, a sentir raiva, a não compreender mais do que já não compreedia, a chorar bastante.

Foi assim que conheci o poder e o mistério da contradição. 

Eu conhecia aquele lado bonito, lírico, confortável e estava feliz com ele, apesar de passar por maus bocados por acreditar em coisas que pareciam ser de filmes ou livros de romance. Mas ele me tirava um pouco da realidade, não me permitia enxergar as responsabilidades que vinham com ele, a parte difícil, dolorida e feia de tudo aquilo. Acreditei que conhecia esse lado obscuro, mas não, eu o tentava sufocar, não queria pensar muito nele.

Sabe, foi assim que descobri que a verdadeira beleza não está na parte perfeita - e também não na parte feia, mas justamente no ponto de equilíbrio entre elas duas. E que ela só pode ser vista de forma real quando nos permitimos enxergá-la como ela é. A beleza é feia e a feiura é bela. 

É difícil ver tudo isso com todos os padrões que nos ensinam, com todos os padrões que criamos, com a nossa forma de enxergar tudo de forma tão não real, porque talvez tenhamos medo do que é real, acreditando que a realidade não é agradável. 

Um dia uma grande tempestade começa a fazer sentido e não conseguimos nos imaginar sem ela. E aqueles raios e trovões que nos apavoravam são os mesmos que depois de uma fração de segundos nos fascinam. E isso é estar no contraditório, no centro dos paradoxos. Talvez isso seja a vida. Talvez isso seja crescer. 

P.s: Todos os meus conflitos internos e questões a resolver foram os responsáveis por tirar uma venda dos meus olhos, aquela que me fazia crer que a vida só podia ser bela se eu a fantasiasse um pouco.