quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dia



Estive pensando. Pensando em loucura.


[...]

Acordo quando o sol ainda não surgiu nestas terras que um dia Colombo desbravou, a América. Ou a terra que falava tupi antes de Cabral resolver aventurar-se nos mares, o Brasil. Acordar é um processo, minha rotina é um processo, a vinda do astro maior é um processo. Ele sempre surge ali no outro dia, colorindo o céu em cores que ainda não consegui encontrar em lugar algum.

"Bom dia pituco" para o Bob, com cara de que o sono estava muito bom, obrigado. Desço as escadas e rua. Vou andando para a parada, tentando enchergar aquele balé invisível que desalinha meu cabelo, chacolha minhas roupas e leva-me a esconder as mãos em baixo dos braços.

Quem mandou estudar tão longe?

No ônibus os rostos são sempre os mesmos, apenas mudam de lugar. Fico os procurando por um tempo, tento contar alguma coisa, olho pela janela.

Como eu amo janelas. A janela do ônibus não é bem meu ideal de janela, mas confesso que gosto de lembrar das peculiaridades que já vi através dela. Pois é.

Fico imaginando o futuro, lembrando da minha infância, rindo de uma palhaçada alheia, olho no celular e no relógio de pulso. Mesmo horário. Volto a viajar. China, Japão, Itália, Nova Zelândia, Portugual, Índia, Iraque, Israel, Hawai. Vou pra lá, ver sol, ver neve, ver olhos puxados, ver gente, ver mar. Ah saudade do mar!

Pouco a pouco eu me despeço silenciosamente daquelas pessoas que eu gosto de conhecer. Sei que é uma palavra muito forte, mas é que no momento eu não encontro outra que faça senti-me feliz como essa. Conhecer gente.

Fico imaginando em que elas têm pensado, se já pularam de paraquedas, se falam inglês, se já foram à Salvador. Fico tentando imaginar suas vidas. Seu passado, seu presente, seu futuro. Poucos sorriem, ninguém canta durante a viagem, todos parecem estar cansados.

E eu, como será que eles me vêem? Para mim, esta é uma das mais intrigantes perguntas, porque as primeiras respostas que vêm a minha mente são baseadas em minhas próprias impressões. Pois é.

Universidade. Aula. Intervalo - algumas vezes. Aula. Nada de sinal. Parada. Ônibus. Casa. Sem carro na garagem. Minha mãe já foi trabalhar. "Oooooi pituco, como você tá?" - como se ele pudesse responder. Chave na porta. Ah, como é bom o "ar de casa". Neste dia a Débora já tinha chegado.

Ficamos um bom tempo conversando. Esquecemos de tudo que tínhamos para fazer, nos escondemos nas cobertas e conversamos até a garganta doer. Nestas horas eu penso que minha garganta deveria ser um pouquinho mais forte.

Às muitas sílabas já trocadas, algumas gargalhadas, alguns segundos de silêncio, já na quarta, pé na embreagem para quinta ela me diz: Mas todos nós somos loucos e sempre vemos os outros como loucos, a loucura na verdade é algo que faz parte de nós...

- A normalidade não existe.

Sair do calor da minha casa, com o sol ainda despertando e curtir a minha rotina, escrevendo textos o tempo inteiro - textos que eu sempre esqueço, aliás; ver gente, tentar entendê-las é tão pequeno. É tão pequenina loucura.

Cair na balada, curtir um baseado, quebrar paradas, conseguir pichar o topo do Everest, pegar geral, tirar a nota mais sinistra na matéria de cálculo, assistir todos os filmes da "tela quente"... Também são loucuras tão pequeninas.

Nós fazemos tantas pequenas loucuras ao decorrer do dia. Somos tão pequenos loucos neste mundo.

E sabe? Eu fico pensando na maior loucura que eu já ouvi falar na vida.

Alguém que podia abraçar e pentear os cabelos dos mais lindos seres, que podia abraçar um pai e assim, ao mesmo tempo, se abraçar, que era a expressão de amor, de alegria, de grandeza, de simplicidade, que podia criar o que lhe convinha, que podia ser o que quisesse ser, que podia fazer o que quisesse fazer. Esse alguém abre mão de tudo. Ele abre mão de tudo. E decide morrer, morrer por amor. Não sei se eu morreria por alguém como ele morreu. Não sei se seria capaz de amar alguém o suficiente para não me importar se ela gosta ou não de mim e me entregar. Eu não sei se teria coragem de abrir mão de pequenas loucurinhas diárias, e que me fazem feliz, para que outra pessoa pudesse fazer suas loucurinhas diárias. Eu não sei.

E mesmo sabendo que, mesmo para morrer - morte física - por ele, eu não sei se teria coragem, ele decidiu morrer por mim.

Ele morreu por todos nós.

Eu concordo quando escuto que isso é tudo uma grande loucura. Porque realmente é uma grande loucura. Mas sabe, você realmente ainda acredita que algo neste mundo é normal?

Já pensou que as margaridas são todas da mesma cor? Já viu que as centopéias têm cem perninhas - créditos à Suellen? Já viu a descarga de adrenalina em uma criança ao nascer? Já ficou olhando suas mãos algum dia? Já perdeu uma tarde vendo o vento dançar com as plantas? Já viu que horas as estrelas resolvem aparecer? Já viu como a água que brota tão pura e delicada da terra se torna em um rio estrondoso?

Segundo o dicionário, normalidade é um estado padrão, um ponto de vista comum. Aquele que anda para a esquerda quando todos estão andando pela direita é anormal. Eu me pergunto se esta normalidade de que o dicionário fala existe, afinal, somos seres únicos, com decisões únicas, não existe um padrão, apesar de  buscarmos nos adaptar aos padrões alheios, na tentativa de sermos aceitos, de sermos vistos.

A natureza não é normal. Não somos normais. Somos únicos, desafiamos qualquer lógica, temos nossos próprios padrões, nossa própria forma de enchergar o mundo.

Nessas pequenas sutilidades em nós e em tudo que está a nossa volta, existem pequenas cartas de amor que são deixadas, o tempo inteiro, por aquele que nos ama de forma absurdamente... louca. Porque alguém que nos ama como Ele ama, capaz de se entregar por nós, mesmo que, muitas vezes, O tiremos do nosso campo de visão, que O excluamos dos nossos padrões, do nosso horizonte, não pode ser normal. Não segue nenhum padrão. Ele é ele mesmo. Com sua forma inusitada de pensar. Com sua forma inigualável de amar. Com seu jeito único de ser feliz. Com sua loucura por nós.

E sabe de outra coisa? Ele ama nos explicar suas loucuras. Cada uma delas.










Da sua boca é que vem o conhecimento e o entendimento.
Provérbios 2:6

Ninguém tem maior amor do que este.
João 15:13






"O que me fascina em Jesus não é só a capacidade de ressuscitar os mortos, de curar os cegos ou os paralíticos. O que me fascina nele é a sua capacidade e coragem de dizer que Deus é Pai, um Pai que ama os que não merecem ser amados, que abraça os que não merecem ser abraçados e que escolhe os que não merecem ser escolhidos. Um Pai que quebra as regras ao nos desconcertar com seu amor tão surpreendente, um Pai que não quer se ocupar com os erros que você cometeu até o dia de hoje. Porque o amor que Ele tem por você, é um amor cheio de futuro, Ele não está preso no seu passado e a Ele não interessa o que você fez ou deixou de fazer de sua vida, a Ele o que importa é o você ainda pode fazer."










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