quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sem título




Nesta tarde, eu gostaria de um pouco de mar. Da água salgada, da areia a esconder meus pés, daquela brisa fresca, naturalmente bem temperada, em um final de tarde, com o sol quase chiando no horizonte. Eu queria aquela melodia nos meus ouvidos, aquelas ondas que quebram para a direita, para a esquerda, para cá. Soltar meu cabelo, uma roupa leve, havaianas nas mãos. Eu queria esquecer do concreto, da cidade planejada, do coração do Brasil. E não que eu não ame Brasília, mas é que hoje, eu queria mar.

Não dormi muito bem esta noite. Tantas coisas têm acontecido comigo. Tantos novos sonhos para sonhar, tantos novos versos a escrever, tantas novas sílabas que eu não quero vocalizar, fico as cantando em secreto, parece assobio. Não sei para quem são.

Marca a página do livro. Desliga o abajur. Se esconde nas cobertas. Fecha os olhos. Abre os olhos. Fecha os olhos. Aperta o travesseiro. Vira pro outro lado. Barriga pra cima. Abre os olhos. Escuridão. Onde está o teto? Eu vejo minhas amadas estrelas. 

- Está na hora de abrir os olhos. Está na hora de sonhar.

- Mais do que já tenho sonhado?

Um sorriso.

- Sonhar de forma diferente...

[...]

Algumas pessoas possuem o dom de se fazerem importante em nossa vida sem fazerem qualquer esforço. E foi assim que ela se tornou, de alguma forma, importante pra mim.

Me abraçou. Via uma flor. Uma flor que não conseguia exalar seu perfume, uma flor que não se deixava fluir. Parecia existir uma bola em seu caule, algo que parecia estar guardado, que estava sendo acumulado ali há algum tempo.

Por mais que eu não gostasse de admitir era eu, aquela flor sou eu.

Sinceramente não sei porque estou escrevendo este texto. Não sei exatamente o que quero falar. Não sei se encontrei uma introdução, um desenvolvimento, uma conclusão. No fim, eu sei que não quero uma conclusão.

Eu quero fluir. Fluir de verdade.

Quero deixar que esse perfume escondido aqui dentro rompa seus limites e me deixe enfim respirar. Eu quero livrar-me do medo de me permitir ser feliz. Eu quero sonhar de forma diferente.

Sei o que tenho guardado em mim, sei o que não tenho deixado fluir, sei o que tem me dado medo, o que tem me feito chorar em alguns momentos, sei que, de alguma forma, me faz sonhar. Não tenho deixado que esse perfume inunde meu quarto no meio da noite e me tire o sono, as palavras, a calmaria no peito, a lucidez. Eu o tenho escondido, eu sei, o tenho escondido por muito tempo.

E talvez por isso eu queira o mar.

Lembro-me de um verão em Santos, litoral de São Paulo. Era primeiro de Janeiro e o mar estava agitado. Suas ondas subiam a mureta de proteção, invadiam o asfalto, acordavam a cidade. Eu estava no 13° andar, vista privilegiada. Conseguia ver transatlânticos lá no fundo, pequenos barcos de pesca, kaiaks. Naquele dia não. O céu estava cinza, a cidade estava suja, o mar estava furioso.

Aquele mesmo azul-esverdeado que eu namorava horas e horas na varanda, era o azul-cinzento que assustava-me e impressionava-me naquele primeiro dia do ano.

Ele fluia. Tempestuoso, calmo, de qualquer cor. Ele fluia. Não tinha medo se iria encontrar algum obstáculo a sua frente, no meu caso, alguma decepção. Não tinha medo de assustar pessoas, no meu caso, de decepcioná-las. Não se importava se fazia barulho, no meu caso, de me notarem. Não tinha medo.

Eu quero me permitir perder o sono no meio da noite, perder o apetite, ver um filme no teto do quarto, sorrir um sorriso bobo, entregar cartas, escrever novas palavras nos cantos do caderno, lembrar de um nome. Eu quero esquecer do medo. 

Um pouco de mar. Amar e saber quem.