quarta-feira, 9 de setembro de 2009

TOOK MY SENSES;

Por aquela janela entravam os raios de uma nova aurora. A escuridão do quarto aos poucos teve que ceder à luz, que ao passar dos segundos ficava mais forte, mais presente.

Já era possível ver o guarda-roupa entreaberto, a escrivaninha cheia de livros marcados e pequenas folhas onde versos secretos se escondiam.

Com o raiar de um novo dia, pássaros colocavam-se perto daquele lugar e cantavam. Cantavam o som de alguém feliz por mais uma vez ver o Sol aparecer para dar 'bom dia'. Cantavam e cantavam, como se nada os pudesse atingir. Como se não ouvesse felicidade maior que o fato de viver.

E com aqueles cânticos cheios de pureza e mistérios, ela começava a abrir os olhos. Deitava-se de forma que pudesse ver o teto, imaginando que ali estavam as estrelas e planetas que noite após noite ela observava. Já era dia. Agora era a hora de aparecerem as nuvens, o brilho majestoso do astro maior e as criaturas fantasticamente diurnas, onde estam incluidos borboletas, sabiás e joaninhas.

Com as mãos acariciando os cabelos, ela planejava o que fazer ao longo do dia. E escutando o som maravilhoso daqueles sábios cantores, ela se inspirava para mais algumas horas totalmente desconhecidas. Como isso a impulsionava...O fato de saber que nada estava programado, apesar das horas marcadas em sua agenda. O fato de não saber se a chuva iria cair, ou se o dia iria ficar todo claro, com ou sem nuvens; mesmo meteorologistas passando uma boa parte do seu tempo prevendo como tudo seria. Nada estava sobre controle. De nenhum ser vivo. O poder estava nas mãos de alguém, que ela, mesmo não entendo muito bem, admirava incondicionalmente.

Na hora que o seu corpo foi tirado das cobertas e daquela cama quente, o quarto já possuia aquela cor amarelada brilhante e apenas o que estava dentro das gavetas, daquele baú e atrás das portas do guarda-roupa estavam mergulhados em uma escuridão não contínua.

Um 'bom dia' saiu dos seus lábios. E quem o quisesse ouvir tinha o direito de tomá-lo para si. E muitos o tomaram, é claro.

Havia algum calor dentro do seu peito. Havia uma música frequente e enigmática tocando dentro dela. Dava vontade de abraçar toda e qualquer criatura e dançar em todos os lugares. Ela tinha vontade de colocar para fora toda aquela alegria que emergia por seus olhos, sua fala, suas mãos.

Com o rosto recém-lavado, o pijama com o seu cheiro e um copo com água fresca, ela começou a escrever histórias. Cada vez que aquela caneta se encontrava com aquelas esbranquiçadas folhas; frases, períodos e parágrafos lhe invadiam a mente. Em uma fração de segundos, eles eram organizados e faziam dela uma escritora amadora.

Naquele dia, como em muitos outros, ela escrevia sobre sua personalidade poética, colocando suas palavras em terceira pessoa e vendo diante dos seus olhos o espelho da sua alma leal, prolixa, paradoxal, feliz e cheia de sentimentos maravilhosos e outros não tão maravilhosos.

Era normal gostar de escrever sobre si mesma, visto que, assim como todos os humanos, dentro dela havia uma faísca de egocentrismo e egoísmo. Não fazia mal. Fazia dela alguém mais apaixonada. Por palavras. Por pessoas. Pela vida. Por Deus. Por ela mesma.

E continuava a escrever. Não fossem as suas obrigações, ela passaria o dia todo sentada ali, tentando descrever cada sentimento novo que lhe invadia a alma.

Gostava de lembrar a época que brincar embaixo da árvore lhe rendia as mãos e a roupas imundas de barro. Das tardes procurando no jardim qualquer bicho distinto daqueles que ela já havia encontrado.

Lembrava dos shows particulares de dança, teatro e canto que dava para seus pais. Das palmas que conseguia e das gargalhadas que naqueles momentos causava.

Lembrava em todos os momentos dos seus sonhos, das suas crenças, das suas manias, das suas gracinhas, das suas palavras, dos seus amigos, da sua família, do seu Deus...

Em todos os momentos, ela escrevia. E de todas as formas, ela sentia. Talvez em algum momento, aquelas tantas sílabas poderiam fazer parte de mais um novo livro brasileiro, quem sabe?


{ CONTINUA }